Meados do século XIX. Um grupo de sobreviventes do naufrágio de um navio negreiro, brancos e negros, dão à costa numa ilha deserta, perdida algures no Oceano Atlântico. A luta pela sobrevivência e pelo poder vai inverter os valores morais e sociais da época. Os Sobreviventes conta a história de como senhores e escravizados podem ou não conviver numa situação extrema.
Os Sobreviventes fala de um grupo de homens e mulheres [negros e brancos] que sobrevivem a um naufrágio de um navio negreiro, no meio do Atlântico. O que começa por ser uma salvação e uma celebração da vida, rapidamente se transforma num pesadelo em que as hierarquias pesam, o dinheiro ainda vale e o estatuto também. Mas uma jornada de reconhecimento pela ilha após a ultrapassagem de obstáculos incomensuráveis, leva a uma reviravolta. A nova sociedade da ilha criou novas hierarquias, novos poderes e muitas outras formas de convivência. O filme, belissimamente fotografado a preto e branco por Hugo Azevedo, talvez para evitar distrações narrativas, coloca todos sobre a mesma penumbra de (des)integridade levando-nos a questionar a nossa história e a sua permanente mentira. Finalmente agora em Portugal parece emergir o debate do que foi a colonização portuguesa, o massacre dos escravos e os crimes horrendos cometidos. Os Sobreviventes toca de forma muito acutilante e justa, pondo o dedo na ferida, afastando-se finalmente do preto e branco, para procurar uma zona de cinzentos com respostas. O homem que tem instrução revela-se o elo mais fraco da balança. E com este poder, Barahona traz à luz o debate possível na esperança de que o debate da “reparação” possa vir a seguir. – Miguel Valverde