Little Richard é tudo, e talvez isso tenham sido coisas a mais que nunca conseguiu conciliar totalmente. Este documentário revisita a vida de um homem que foi definida pelas músicas que criou e que mudaram o rock’n’roll americano. Mas também por uma luta interna, ao longo da sua vida, entre uma vontade irrepreensível de se expressar, sem se definir pela sua sexualidade ou pela cor da pele, e a sua religião.
Pensar em Little Richard é pensar em algumas das mais rápidas e alegres músicas da histórica do rock americano, ponto final. Ouvir a sua rendição de “Tutti Frutti” e não começar a mexer mãos, pés ou cabeça é literalmente impossível. A sua energia é contagiante e inebriante, seja pela forma como toca ou canta. Little Richard era uma força da natureza e um ícone musical. Mas era também um homem com muitas contradições. Neste filme, para além da música, há um raciocínio desenvolvimento face à importância desta figura na luta, ao longo das décadas e até aos dias de hoje, do movimento LGBT. Richard Wayne Penniman viveu durante algum tempo a sua sexualidade de forma pública, falando das suas experiências e com uma exuberância pouco vista em celebridades do seu nível. Mas o seu foro religioso manifestou-se como sendo incompatível com uma figura pública com uma imagem que quebrava convenções. As suas performances explosivas, contudo, mantém-se como um dos pináculos do rock. (Ana Cabral Martins)