O romance e a distopia andam muitas vezes de mãos dadas. Léa Seydoux é Gabrielle, uma mulher que vive numa sociedade futurista que abomina emoções que exaltem os seres humanos. Para o efeito, um processo de purificação do ADN leva o indivíduo a viajar por todas as suas vidas anteriores, separando-se de todas as coisas que a afectaram. Nessas viagens, surge Louis (George MacKay), num encontro que põe em causa todo o processo.
Até que ponto é realmente possível livrar-nos dos nossos afetos? A inteligência artificial pode acabar confundindo e apagando os resquícios daquilo que nos constitui como humanos? Bertrand Bonello decide focar-se num rosto, que é o de Léa Seydoux, para se aventurar na procura de alguns dos mistérios mais profundos e perturbadores da nossa própria humanidade e ter que lidar ao mesmo tempo com outros seres humanos. Ao longo de uma jornada de três etapas, Gabrielle navegará pelo abismo do ser humano. Inspirado em A Fera na Selva, de Henry James, Bertrand Bonello nos apresenta aquele que é provavelmente seu melhor filme até hoje. – Miquel Escudero Diéguez