Uma sequela espiritual do seu filme anterior, Forest, um drama feito com pouquíssimo dinheiro, ocupado por actores amadores e personagens com diferentes relações em crise, compostos numa série de vinhetas. Aqui, vemos um retorno ao estilo e ao género, com novas personagens num ambiente igualmente claustrofóbico, onde Fliegauf explora temas como o abuso, o trauma, a perda e a vingança.
Fazer um filme em episódios que não pareça um conjunto aleatório de curtas-metragens não é tarefa fácil. Mas é exactamente o que fez o cineasta húngaro Bence Fliegauf, que em 2003 nos tinha presenteado com o omnibus Forest e que agora elevou de novo a fasquia. Esta sequela claustrofóbica estreou na competição principal do Festival de Berlim. A câmara fecha-se sobre as personagens e está atenta aos mínimos detalhes. Tem momentos furtivos, como se espiasse à distância, mas tem outras cenas de grande intimidade como se fosse um amigo convidado a estar presente nalgum momento para testemunhar ou para julgar. A intensidade dramática de algumas das histórias é tal (estamos no território da dor e do abuso) que quando passamos para o episódio seguinte o anterior não nos larga e tentamos a todo o custo fazer ligações entre eles. E esses laços invisíveis são parte de um quotidiano que poderia ser o nosso; sem nada de extraordinário por um lado, com uma importância capital por outro. O desassossego passa por aqui. (Miguel Valverde)