Um filme que junta dois actores adorados pela Internet, Andrew Scott (Sherlock, Fleabag) e Paul Mescal (Normal People, Aftersun). Scott é Adam, um argumentista solitário que vive em Londres, e se apaixona pelo enigmático vizinho, o Harry de Mescal. Quando visita a sua casa de infância (para se inspirar para um próximo projecto), descobre que há uma versão fantasmagórica dos pais (Claire Foy e Jamie Bell) que se mantém ali.
– Hey Miguel! Venho escrever-te sobre um daqueles filmes raros que aparece, dilacera, permanece em nós e consola: All of Us Strangers.
Andrew Scott, Paul Mescal e Andrew Haigh, o trio magnético que é o alicerce do filme.
There’s vampires on my door… é assim que tudo começa.
– A mim é a música que me “mata”. Todas as referências musicais do filme fazem lembrar-me momentos específicos da minha adolescência. Lembra-me também as minhas cassettes áudio quantas vezes regravadas. E depois há a relação com os pais. A dificuldade do contar. A dificuldade de olhar para dentro dos seus olhos e ver espelhada a nossa realidade, mas que tem de ser expressa por nós para ser real. E os pais continuam lá, mesmo que sejam memórias. E o nosso coração fica cheio. E tu, o que sentiste?
– As canções são como hinos que fizeram resistir Adam a uma juventude marginalizada, ou terrivelmente intemporais como nos mostra Harry. Na música e no filme: A perda. A solidão. A ternura. A paixão. Sentimentos universais são a matriz desta história queer. E que remate explosivo! Dreams are like angels / They keep bad at bay / Love is the light / Scaring darkness away
Demoro a escrever-te. Escrevo em fluxo de consciência. Apago. Tento ser cerebral na escrita e encadeamento de ideias. Mas não consigo falar deste filme com razão, só com emoção. Também aqui há uma certa magia. O Andrew Haigh teve a mestria de criar uma obra capaz de tocar tantas pessoas de uma forma tão íntima e profunda.
É no IndieLisboa a única oportunidade para ver o ALL OF US STRANGERS no grande ecrã em Portugal (bizarro um filme destes não estrear por cá). Vamos?
– Claro que sim, vamos. Nunca nós podemos esquecer que os nossos direitos não estão adquiridos. É preciso todos os dias lembrá-los. E se o fizermos com alguém que está ao nosso lado para ouvir, nunca seremos estranhos mas seremos uma imensidão de pessoas estranhos entre si, mas com o mesmo coração. Se há um ponto a picar no IndieLisboa 2024, será a sessão absolutamente magestosa de All of Us Strangers.
(Alexandra Ferraz / Miguel Valverde)