01 MAIO — 11 MAIO 2025

01 MAIO — 11 MAIO 2025

Do real ao virtual: um olhar sobre um mundo em contaminação na Competição Internacional do IndieLisboa

São 42 filmes aqueles que se apresentam em estreia na décima-sexta edição do IndieLisboa. Das longas às curtas olhamos o dia-a-dia de um mundo a questionar as suas fronteiras: entre o humano e o digital, a memória e a verdade, a intimidade e o espaço público, o real e a ficção, o feminino e o masculino.

Nas longas, aos já anunciados Temporada, de André Novais Oliveira, e Jessica Forever, de Caroline Poggi e Jonathan Vinel, juntam-se hoje Ne travaille pas, de César Vayssié, um filme sem palavras que acompanha a intimidade de um casal ao sabor do frenesim visual dos nossos dias. É também nos ecrãs que Shengze Zhu encontra as histórias que cosem Present.Perfect., um retrato sobre a forma como as chatrooms e os telemóveis trouxeram novos horizontes à vida de pessoas solitárias na China. Do virtual para as ruas, em So Pretty (na imagem), de Jessie Jeffrey Dunn Rovinelli, acompanhamos a vida de uma comunidade queer em impasse diante das investidas da extrema direita, enquanto em Thou Shalt Not Kill, Cătălin Rotaru e Virginia Șarga denunciam a forma como a corrupção está a custar vidas nos hospitais públicos da Roménia.

Em estreia mundial, De los nombres de las cabras, da dupla Silvia Navarro e Miguel G. Morales, questiona a memória histórica do povo Guanches, desmontando mitos coloniais e denunciando o complexo mapa de poderes que escreve o discurso histórico. Em Bait, Mark Jenkin confronta-nos com os impactos do excessivo turismo na frágil economia piscatória da Cornualha. Fechar a olhar a ficção, com Lost Holiday, de Michael Kerry Matthews e Thomas Matthews: um road movie sobre dois detectives trapalhões, propulsionado a álcool, drogas, raptos, violência, e De nuevo otra vez, realizado e interpretado por Romina Paula, num intrigante jogo entre documentário e ficção.

Destaque na competição internacional de curtas para as contaminações vindas da estética dos videojogos, com um conjunto de filmes que trazem os gráficos, as linguagens e os hábitos da comunidade gamer para o grande ecrã. Seja pela forma como se questiona a perspectiva e o olhar sobre uma mesma cena de Fest (Nikita Diakur); como nos vemos numa Nova Iorque pós-apocalíptica de Operation Jane Walk (Robin Klengel e Leonhard Müllner); ou pela descoberta de uma nova forma de assédio online que virou moda de streaming na internet, em Swatted (Ismaël Joffroy Chandoutis).

À semelhança do que tem vindo a ser hábito ao longo das suas edições, a competição faz-se também de regressos. Como o de Emmanuel Marre (melhor curta de ficção em 2017 com “Le film de l’été”), com D’un château l’autre, uma docu-ficção sobre um jovem eleitor, indeciso entre Macron e Le Pen, que venceu o Leopardo de Ouro em 2018, ou de Abu Hamdan (“Rubber Coated Steel”, IndieLisboa 2017), a continuar a sua investigação sobre a utilização do som em contexto judicial. Em Walled Unwalled, um filme onde os muros servem de pretexto para discutirmos limites (sonoros) entre o privado e o público. Palavra especial para Sara Fgaier (montadora, entre outros, de “La bocca del lupo” de Pietro Marcello, IndieLisboa 2010) a trabalhar sobre imagens de arquivo em The Years, para contar a história de uma mulher e das suas décadas à beira do mar da Sardenha.

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