23 MAIO — 02 JUNHO 2024

23 MAIO — 02 JUNHO 2024

Sem-vergonha, ou o cinema de Doris Wishman em retrospectiva

“Depois de morrer, estarei a fazer filmes no inferno!”, afirmava a lendária realizadora norte-americana que chega este ano ao IndieLisboa. Doris Wishman (1912-2002) passou meio século na vanguarda da má reputação, tornando explícito com o seu cinema aquilo que não era permitido à imagem. Autodidata, Wishman construiu sozinha a sua carreira, produzindo, realizando e montando a maior parte dos filmes que compõem a sua filmografia, e que serão apresentados em conjunto com a Cinemateca Portuguesa já na próxima edição do festival.

Estreou-se em 1960 e tornou-se pioneira da sexploitation feminina no cinema ao longo da década. Começou por produzir os chamados nudie cuties, dos quais se destaca Nude on the Moon (1961), uma longa-metragem de fantasia científica que leva dois astronautas a descobrir uma colónia de nudistas na lua. Mas o crescente desinteresse do público pelo estilo fez com que a cineasta mudasse o rumo do seu cinema e seguisse o caminho dos roughies, um subgénero popular à época que combinava desejo e violência, e que em Wishman acabou por denunciar um olhar sobre o que significa ser mulher. Com o frenético Bad Girls Go to Hell (1965), a sua obra-prima por excelência, hostilidade para com as mulheres e tentações pervertidas tornaram-se temas recorrentes. Audaciosamente eróticos e de carácter protofeminista, fazem ainda parte da sua lista de filmes mais conhecidos os títulos Deadly Weapons (1974), Double Agent 73 (1974), ou o semi-documentário Let Me Die a Woman (1978).

Afastou-se da indústria nos anos oitenta e a artista Peggy Ahwesh foi reencontrá-la em Miami, em 1994, a trabalhar numa sex shop. Uma “mulher obcecada com os temas do estatuto social e liberdade femininas, o drama contemporâneo do medo, desconfiança e o desafio entre os sexos”. É assim que Ahwesh descreve o cinema daquela que até à data é a cineasta mulher com mais filmes realizados, na sua zine The Films of Doris Wishman, produzida pela primeira vez em 1995. Peggy Ahwesh irá estar em Lisboa durante o festival, para acompanhar a retrospectiva que este ano mostra cinema só para adultos.

Em 2022, voltamos a ocupar as salas do Cinema São Jorge, Culturgest, Cinema Ideal e Cinemateca Portuguesa, entre os dias 28 de abril e 8 de maio.

Aqui fica a lista completa dos filmes de Doris Wishman que irão ser apresentados:

Diary of a Nudist (1961)
Nude on the Moon (1961)
Bad Girls Go to Hell (1965)
Another Day Another Man (1966)
Indecent Desires (1968)
Keyholes Are for Peeping (1972)
Double Agent 73 (1974)
Deadly Weapons (1975)
The Immoral Three (1975)
Let Me Die a Woman (1978)

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